A doença do coronavírus (covid-19) é uma pandemia viral em curso que emergiu do leste asiático e se espalhou rapidamente pelo resto do mundo, esgotando recursos e limitando a disponibilidade de testes de diagnóstico. Os sintomas esperados dos vírus respiratórios são febre, tosse seca, dispneia e fadiga. No entanto, uma parte significativa dos pacientes com covid-19 parece apresentar perda total ou parcial do olfato (hiposmia) e paladar (hipogeusia), sem rinorreia ou obstrução nasal. Pelo caráter respiratório da doença, que tem a cavidade oral como uma das portas de entrada e sítio de replicação viral, sintomas orais devem ser melhor investigados. Considerando que a prevalência das manifestações orais e nasais ainda é bastante variável e apresentam amplo espectro e tempo de duração, assim como são comuns também a outros vírus respiratórios, o objetivo do presente estudo foi investigar, por meio de uma pesquisa transversal, a prevalência de sintomas orais e nasais em pacientes com covid-19 em comparação com outras síndromes respiratórias (SR) em uma população do Brasil. Foram avaliados 85 indivíduos com teste de RT-PCR positivo para SARS-CoV-2 e 81 indivíduos com infecção sintomática do trato respiratório por outros vírus respiratórios utilizando um questionário de auto relato. Os resultados encontrados confirmaram que os distúrbios do paladar e do olfato são sintomas prevalentes da covid-19, com especial atenção para a perda do paladar que apresentou prevalência de 73% e tempo médio de duração de 8,7 dias. O sabor salgado foi o mais afetado, mas uma diferença significativa no grupo covid-19 foi encontrada para os sabores azedo e umami. Sintomas orais, principalmente lábios secos e alterações na língua, foram também frequentemente relatados por pacientes com covid-19 quando comparados a pacientes afetados por outros vírus respiratórios. Estes resultados demonstraram que sintomais orais podem ser utilizados como ferramenta clínica para orientar a testagem de indivíduos pauci-sintomáticos ou mesmo para auto-isolamento, além de serem úteis como diagnóstico diferencial com outros vírus respiratórios, ajudando a prevenir a disseminação da pandemia de covid-19 e possíveis novas infecções sazonais pelo SARS-CoV-2. Além disso, a anamnese da cavidade oral em pacientes com covid-19 deve ser enfatizada e novos estudos são necessários para elucidar as causas dessas alterações. Ver menos