Os bisfosfonatos, drogas sintéticas derivadas do pirofosfato, têm sido amplamente utilizadas para o tratamento de doenças reabsortivas do osso, mais comuns em pacientes acima dos 60 anos de idade, e têm sido associados à ocorrência de osteonecrose dos maxilares. Seu mecanismo de ação envolve inibição da atividade e indução da apoptose dos osteoclastos, diminuindo a reabsorção óssea. De acordo com as Diretrizes da Associação Americana de Cirurgiões Orais e Maxilofaciais (AAOMS), implantes dentais não são contra indicados em pacientes com doenças osteoporóticas. Efeitos adversos são observados em pacientes submetidos à terapia por longo tempo com bisfosfonatos, principalmente osteonecrose dos maxilares. Relatos de casos retrospectivos têm avaliado a ocorrência de osteonecrose relacionada à terapia com bisfosfonatos por via oral com a inserção de implantes e seus resultados são conflitantes. Recentemente, dados de casos de pacientes com osteonecrose dos maxilares relacionada a medicamentos (MRONJ, do inglês- Medication-related Osteonecrosis of the Jaws) ao redor de implantes dentais confirmam que não apenas a inserção cirúrgica de implantes dentais é um potencial fator de risco para desenvolvimento de osteonecrose, mas também a própria presença do implante pode estar associada à doença. Outros autores afirmam que a terapia com bisfosfonatos não parece afetar significativamente o sucesso do implante. No presente estudo, foi analisada a história médica e dental de oito pacientes diagnosticados e tratados de MRONJ no período de 2001 a 2016. O desenvolvimento da MRONJ foi relacionado ao gênero feminino, à idade (sexta ou sétima década de vida), ao tempo de tratamento com o bisfosfonato (mais de três anos de uso do BP), à via de administração e à presença da doença reabsortiva óssea (osteoporose ou osteopenia). Em relação aos demais fatores de risco/clínicos levantados (fumo, diabetes, hipertensão, hipercolesterolemia, hipo/hipertireoidismo), não foi possível estabelecer a associação com o desenvolvimento da MRONJ, embora se deva considerar a limitação em relação ao número de pacientes avaliados. Considerando o caráter retrospectivo deste estudo, destaca-se ainda a falta de padronização de procedimentos odontológicos, bem como de cuidados de higiene oral prévios e posteriores à instalação dos implantes. De fato, relato prospectivo recente, em que estes fatores foram rigorosamente controlados em pacientes em tratamento via oral com bisfosfonatos, demonstrou sucesso de 98,98% num acompanhamento de 3 anos em relação aos implantes em maxilares (Tallarico et al., 2016). Juntos, nossos resultados e de outros explorados aqui mostram que a possibilidade de desenvolvimento de osteonecrose deve ser destacada aos pacientes em terapias anti-reabsortivas com indicação para instalação de implantes e sugerem a importância do controle da microbiota e, consequentemente, da saúde bucal na prevenção da MRONJ para o sucesso dos implantes.
Palavras-chave: Osteonecrose da arcada osseodentária associada a difosfonatos. Difosfonatos orais. Implantes dentários. Ver menos